OPINIÃO
”Se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda
A juventude, que nunca morrerá.”
Se você leu os versos acima cantando-os no ritmo da canção do Chaves, seja bem-vindo ao clube: O SBT marcou a sua infância.
A importância da emissora para a
construção do perfil – e, ouso dizer, do caráter – do telespectador
brasileiro é inegável. O SBT sempre foi a TV mais simpática (e talvez a
mais ‘feliz’, como diz seu marketing) do Brasil.
Sem a seriedade da Globo e a sisudez da Record, Silvio Santos compôs uma marca leve, alegre e acima de tudo limpa.
Peça a uma pessoa comum (ou seja, alguém
de fora do mundo dos torcedores de emissoras) para dizer a primeira
coisa que lhe vem à mente quando ao ouvir a palavra “SBT”.
As respostas mais frequentes provavelmente variarão entre “Silvio Santos”, “novela”, “Chaves”, “desenho” e afins.
A tradição é uma velha aliada da emissora. Ser tradicional, porém, está longe de significar ser relaxado ou retrógrado.
Nos últimos tempos, o maior erro do SBT tem sido a falta de equilíbrio entre o “velho” e o “novo”.
É possível ser jovem, mesmo mantendo
hábitos antigos. O SBT, porém, tem insistido em ser um velho, ainda que
queira parecer jovem. Seu slogan atual, #Compartilhe, remete à modernidade das redes sociais, mas sua programação está repleta de atrações pré-telefone celular.
Seria louvável se a emissora utilizasse
estrategicamente seu acervo de sucessos para fisgar um público
nostálgico. Inaceitável, porém, é conceder ares de “cult” ou “retrô” a
uma grade repleta de velharias.
O SBT de 2013 tem a si mesmo e ao ego de seu dono como principais adversários.
Quando se aposta somente naquilo que é velho, inevitavelmente abre-se mão de um público novo.
99% das pessoas não vão a um museu duas
vezes. A primeira visita até é interessante. Na segunda, porém, as peças
se tornam enfadonhas.
O museu de Silvio Santos perde público a cada dia. Não porque não seja precioso, mas simplesmente porque deixou de ser atrativo.
“A juventude que nunca morrerá” sobre a qual cantou o Chaves parece ter deixado a emissora que a consagrou.
O SBT é como um vovô que ama contar
histórias. Ele pode se limitar aos netos e ser idolatrado por eles ou
pode criar um blog e aliar a tradição à modernidade.
***
Uma breve comparação entre as marcas SBT e Record revela a pérola que está sendo lançada aos porcos.
Após a queda de sua dramaturgia, a
Record associou sua imagem ao jornalismo. São horas infindáveis
dedicadas ao gênero, que, por sua vez, possui imagem associada a itens
como “tragédia”, “morte”, “sangue”, “assassinato” e “más notícias”.
“Mas dá Ibope!”, gritarão os fanáticos por números. Sim, dá. Mas tal audiência não poderia ser mais perigosa e inconstante.
Os telespectadores de jornalismo buscam
os fatos, não a emissora. São telespectadores da notícia, não do âncora.
Sua audiência é momentânea, não fiel.
O único da Record a ter “Ibope próprio” é
Marcelo Rezende, que, ironicamente, também é o único de lá a possuir um
“estilo SBT”, pautado no bom humor e no improviso.
Silvio Santos, que marca 9 pontos segurando um papel na mão e perguntando se uma moça “chupa ou assopra”.
Para marcar o mesmo, Rodrigo Faro precisa se vestir de velhinho,
embelezar maridos, contar piadas, dançar, atuar e até aturar a Monique
Evans.
É de um tesouro chamado “identidade” que
o SBT tem aberto mão. Um tesouro intangível, que não pode ser comprado,
mas conquistado. Um tesouro que sua principal concorrente jamais
alcançou.
Um dos comentários mais frequentes acerca das recentes mudanças promovidas pela emissora tem sido este: “O SBT está ficando igual a Record!”.
Isso é tudo que Silvio Santos deveria tentar evitar.
***
É possível ser tradicional sem ser velho.
É possível reprisar sem exalar mofo.
É possível ser conservador sem ser careta.
É possível “compartilhar” sem ter ares de Orkut…
OBS.: Nada contra a rede record, ou a qualquer outra emissora citada, isso é so uma opinião.
Ass: Felipe Lima
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